Total de visualizações de página

sábado, 30 de julho de 2011

Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias






Canção do Tamoio








(Natalícia)









I



Não chores, meu filho;



Não chores, que a vida



É luta renhida: Viver é lutar.



A vida é combate,



Que os fracos abate,



Que os fortes, os bravos,



Só pode exaltar.



II



Um dia vivemos!



O homem que é forte



Não teme da morte;



Só teme fugir;



No arco que entesa





Tem certa uma presa,



Quer seja tapuia,



Condor ou tapir.



III



O forte, o cobarde



Seus feitos inveja



De o ver na peleja



Garboso e feroz;



E os tímidos velhos



Nos graves conselhos,



Curvadas as frontes,



Escutam-lhe a voz!



IV



Domina, se vive;



Se morre, descansa



Dos seus na lembrança,



Na voz do porvir.



Não cures da vida!



Sê bravo, sê forte!



Não fujas da morte,



Que a morte há de vir!



V




E pois que és meu filho,



Meus brios reveste;



Tamoio nasceste,



Valente serás.



Sê duro guerreiro,



Robusto, fragueiro,



Brasão dos tamoios



Na guerra e na paz.







VI



Teu grito de guerra



Retumbe aos ouvidos



D'imigos transidos



Por vil comoção;



E tremam d'ouví-lo



Pior que o sibilo



Das setas ligeiras,



Pior que o trovão.





VII



E a mãe nestas tabas,



Querendo calados



Os filhos criados



Na lei do terror;



Teu nome lhes diga,



Que a gente inimiga



Talvez não escute



Sem pranto, sem dor!







VIII



Porém se a fortuna,



Traindo teus passos,



Te arroja nos laços



Do inimigo falaz!



Na última hora



Teus feitos memora,



Tranqüilo nos gestos,



Impávido, audaz.



IX




E cai como o tronco



Do raio tocado,



Partido, rojado



Por larga extensão;



Assim morre o forte!



No passo da morte



Triunfa, conquista



Mais alto brasão.







X



As armas ensaia,



Penetra na vida:



Pesada ou querida,



Viver é lutar.



Se o duro combate



Os fracos abate,



Aos fortes, aos bravos,



Só pode exaltar.

Nenhum comentário: