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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sugestão e correção histórica dos fatos relacionados com as cataratas do Iguaçu.‏



Cataratas do Iguaçú




Em janeiro deste ano (2011), estive em Foz do Iguaçú, visitando as cataratas. Publiquei alguns posts sobre o tema, uma vez que tenho curiosidade sobre a figura histórica de Cabeza de Vaca. Seu nome Alvar, tem a ver com o meu sobrenome e de meu avós espanhóis: Alvarez! Em seguida, recebi algumas contribuições do Fábio K. Nunes, lá de Santa Catarina, sobre o tema. O Fábio me autorizou a publicar suas pesquisas e as disponibilizo agora, a quem interessar possa. Tudo em nome da pesquisa história. Obrigado Fábio!

A seguir temos o email do Fábio:

"Estou encaminhando neste blog dando como resposta o argumento que fiz por e-mail ao responsáveis do site das Cataratas do Iguaçu (http://www.cataratasdoiguacu.com.br), porém não recebi nenhuma resposta. Por isso estou te encaminhando este e-mail para que possam dar uma analisada.

Meu nome é Fabio e sou pesquisador da história da região onde moro aqui em Santa Catarina (vale do rio Itapocu). Estive visitando as cataratas do Iguaçu no início do ano onde fiz algumas filmagens para o meu documentário (tanto no lado brasileiro quanto no lado argentino).

Entre outros assuntos relacionados com a minha pesquisa, se encontram os desbravadores da coroa espanhola que atravessaram a pé desde a costa catarinense em direção a Assunção no Paraguai na metade do século XVI onde estarei abordando aqui especificamente neste e-mail pros responsáveis do Parque Nacional do Iguaçu é a expedição de 250 homens, 26 cavalos e éguas, dois frades franciscanos, mais alguns índios guaranis sob o comando do governador e adelantado Alvar Núñez Cabeza de Vaca que entrou pelo rio Itapocu no dia 02 de novembro de 1541 e que a maioria desta expedição chegaria no dia 11 de março de 1542 as 08 ou 09 da manhã de um sábado à capital paraguaia. No meu documentário que está em fase de edição, acabei refazendo o itinerário que a expedição fez pelo interior do Paraná até chegarem ao rio Paraná e deste ponto até a capital paraguaia.

Bem, vamos ao que me preocupa historicamente em relação as cataratas do Iguaçu (como pesquisador e principalmente turista).

Pra começar, gostaria de saber qual o documento tem como referência histórica atestando que Alvar Núñez Cabeza de Vaca afirma ter falado “Santa Maria, que beleza” e que o mesmo ainda teria batizado um daqueles saltos de "Santa Maria"?

Até hoje nas documentações que o próprio Cabeza de Vaca fez menção as "quedas da água" do baixo rio Iguaçu, em nenhum momento ele faz estas descrições que vocês divulgam na própria página de vocês:

http://www.cataratasdoiguacu.com.br/descobrimento.asp





Pra rebater com documentação a minha indagação deste e-mail, vou mencionar os três documentos que o próprio Cabeza de Vaca descreve em relação as cataratas do rio Iguaçu.





Trecho do documento: Información de lo sucedido a Alvar Núñez, hasta llegar al puerto de la Asunción, publicado em Assunção no Paraguai no dia 07 de maio de 1543.

(documento publicado no site em anexo):

http://www.cabezadevaca.com.br/site/julgamento/justicia-14

19.Iten si saben etc. que estando en el Río de Yguacu siendo informado el señor gobernador que el río iba a dar al río de Paraná, determinó de ir por él en canoas con cierta gente a tomar el paso de la otra banda del río de Paraná y asegurarse y pacificar /folio y poniéndolo en efecto se embarcó en ciertas canoas con hasta ochenta hombres y todo el resto de la otra gente y caballos, mandó al capitán Francisco López su teniente fuese con ella y atravesase la tierra hasta dar al río de Paraná y tomase y y asegurase esta otra banda del río del río y así se partió el señor gobernador por el río abajo y llegando a un salto que el río hace, mandó varar y se vararon las canoas y se llevaron por tierra a fuerza de brazos con mucho trabajo, término de una legua por más o menos hasta salvar el salto y salido el río del Paraná se puso a la otra banda de él y aseguró y pacificó los indios y desde ha cuatro horas poco más o menos llegó el capitán Francisco López con toda la gente y caballos, Declaren lo que saben.









Trecho do documento: Relación General que yo Albar Nuñez Cabeça de Baca, publicado na Espanha no dia 07 de dezembro de 1545. (documento base para o livro Comentários de 1555)

(documento publicado no site em anexo):

http://ia700102.us.archive.org/22/items/16thcentrelacibon06nbudrich/16thcentrelacibon06nbudrich.pdf

Capítulo XXVII - Este rrio Yguaçu haze un salto, de cuya causa me conbino á my é á la gente passar las canoas por tierra hasta salbar el dicho salto, é las llebamos mas de un quarto de legua baxandolas por tierra á pura fuerza de nuestros brazos hasta que las tornamos

al rio, é fuemos por el hasta que llegamos al rrio de Paraná, y fue Dios servido que los que yban por tierra y los de las canoas todos llegamos á un tiempo, que fue causa que los yndios no osasen acometernos, puesto caso que mucha gente dellos se abian ya allí juntado, y comencé á derramar entre los mas principales rescates y buenas palabras con que los sosegué, y con las canoas hize quatro balsas en las quales en termino de seys oras pasé toda la gente y caballos con mucha pacificación, ayudandome los propios yndios.

Trecho do livro: Comentários de 1555 de Alvar Núñez Cabeza de Vaca.

(documento publicado no site em anexo):

http://bvp.org.py/biblio_htm/alvar_nunez/comentarios/cap_11.htm

Capítulo XI - "-...yendo por el dicho río de Iguazu abajo era la corriente de él tan grande, que corrían las canoas por él con mucha furia; y esto causólo que muy cerca de donde se embarcó da el río un salto por unas peñas abajo muy altas, y da el agua en lo bajo de la tierra tan grande golpe, que de muy lejos se oye; y la espuma del agua, como cae con tanta fuerza, sube en alto dos lanzas y más, por manera que fué necesario salir de las canoas y sacallas del agua y llevarlas por tierra hasta pasar el salto, y a fuerza de brazos las llevaron más de media legua, en que se pasaron muy grandes trabajos; salvado aquel mal paso, volvieron a meter en el agua las dichas canoas y proseguir su viaje, y fueron por el dicho río abajo hasta que llegaron al río del Paraná,...".

Diante deste três documentos do próprio Cabeza de Vaca, em nenhum momento ele faz menção sobre o "Salto de Santa Maria" ou que o mesmo fala a seguinte frase " Santa Maria, que beleza"?! Gostaria que vocês me respondessem a este questionamento.

Aproveitando este e-mail, gostaria de mostrar mais algumas curiosidades destes três documentos em relação as descrições feitas por Cabeza de Vaca sobre as cataratas do Iguaçu:

Na "Información" de 1543 (ítens 16 e 17), Cabeza de Vaca diz que após a expedição ter saído da região do rio Piquiri no dia 18 de janeiro de 1542, caminharam entre dez e onze dias (oito ou nove jornadas) até atingirem novamente o baixo rio Iguaçu (estes dados daria a janela de tempo entre os dias 28 e 29 de janeiro). No livro "Comentários", ele descreve que a chegada ao rio Iguaçu (e não as cataratas propriamente dita) foi "a postrero dia del dicho mes de enero", ou seja, no último dia (31) de Janeiro de 1542. De qualquer maneira se for esta data de 31 de janeiro que o mesmo novamente chegou com a expedição no baixo rio Iguaçu (tudo indica que seja nas proximidades na região da represa Salto Caxias defronte a foz do rio Cotegipe), deste ponto até as cataratas não daria teoricamente tempo do Cabeza de Vaca e o restante a expedição terem contemplado no mesmo dia 31 de janeiro as cataratas do Iguaçu, pois deste ponto até as quedas são aproximadamente 100 quilômetros de distância para serem percorridos no mesmo dia. Como as datas do documento de 1543 e do livro comentários de 1555 são controversas, a forma mais coerente de se afirmar a descoberta das cataratas do rio Iguaçu seria dizer que foi entre o final de janeiro e começo de fevereiro de 1542.

Mais uma curiosidade sobre estes documentos escritos por Cabeza de Vaca seriam as três versões da distância que o mesmo teve com parte da expedição de se desviarem das cataratas por terra com os demais que já percorriam a pé carregando as canoas para seguir novamente abaixo das cataratas até o foz propriamente dita do Iguaçu com o rio Paraná que está bem próxima.

Na "información" de 1543, o mesmo descreve que teve que desviar aproximadamente 1 légua (por volta de 5.5 quilômetros). Na "Relacion General" de 1545, o mesmo descreve que foi aproximadamente 1/4 de légua (por volta de 1.5 quilômetros) e no livro "Comentários" de 1555, o mesmo descreve que foi aproximadamente 1/2 légua (por volta de 3 quilômetros).

Pra terminar os argumentos históricos, o governador somente tomou posse da coroa espanhola no lado direito do rio Paraná já em território paraguaio entre 23 e 24 graus de latitude na região do Guairá (abaixo do salto das extintas sete quedas). Coincidência ou não existe uma colônia paraguaia com o nome de Alvar Núñez Cabeza de Vaca nesta região. Em nenhum dos três documentos que apresentei, Cabeza de Vaca toma posse em nome da coroa espanhola nas cataratas do Iguaçu.

 


Desculpe por este e-mail ser extenso, porém precisava colocar as provas documentais sobre Alvar Núñez Cabeza de Vaca (...)  são estas as provas documentais que este personagem faz em relação as cataratas do Iguaçu e nada mais.


Esta história de "Salto de Santa Maria" e "Santa Maria, que beleza", atribuídas por Alvar Núñez Cabeza de Vaca, infelizmente sinto que foi fruto da imaginação de alguém que queria divulgar ainda mais as cataratas inventando fatos históricos pra se "vender" turismo. Sobre este equívoco histórico, está para ser lançado um filme sobre a história do Paraná desde o século XVI onde se tem uma cena de Alvar Núñez Cabeza de Vaca (personagem interpretado pelo autor Roberto Bomtempo) "tomando posse das cataratas do Iguaçu e dando o nome de um dos saltos de Santa Maria".

A única referência histórica de conhecimento que existe com o nome "Santa Maria" nas proximidades da Cataratas do Iguaçu, seria a redução Jesuítica chamada "Santa Maria la Mayor", que foi fundada em 1626 nas proximidades do rio Icarai, na margem direita do Rio Iguaçu e a esquerda do Paraná pelos Padres Diogo de Boroa e Cláudio Royer. O local provavelmente deve ter existido dentro do Parque Nacional do Iguaçu, porém não foram encontrados vestígios arqueológicos de sua existência até o presente momento. Esta redução ficava longe das demais reduções jesuíticas que existiam ao longo do território paranaense desde o século XVII. No ano de 1633 (7 anos de duração apenas), foi atacada pelos bandeirantes paulistas e por causa das incursões, a mesma transladou-se mais ao sul para as imediações do antigo povo dos Mártires (atual cidade de Santa Maria na província de Misiones na Argentina), donde passou para melhor situação, à meia légua da margem direita do rio Uruguai. Esta última deixou de existir por volta de 1767 após a expulsão dos jesuítas pelos espanhóis.

Pra terminar, do lado brasileiro, deveriam dá um destaque especial a expedição de Alvar Núñez Cabeza de Vaca como vocês fizeram em relação a Santos Dumont (inclusive divulgar os trechos destes documentos mencionados neste e-mail numa placa e ao menos um busto do governador e adelantado), pois no lado argentino do Parque Nacional del Iguazú, ao menos eles colocaram uma placa de bronze (mesmo com o equívoco da data da descoberta das cataratas pela expedição de Cabeza de Vaca ter sido grafada erroneamente com o ano de 1541), além de homenagear a pessoa de Cabeza de Vaca dando o nome de um pequeno salto logo abaixo das grandes quedas (sem precisar dizer que o próprio se auto homenageou dando seu nome ao salto). (...)

Espero que este e-mail seja de importância para o melhor esclarecimento histórico sobre as cataratas do Iguaçú.

Atenciosamente: Fabio





Fora do contexto das cataratas, estou questionando outras frases e atribuições que colocaram na história de Cabeza de Vava aqui no Brasil como por exemplo que na ilha de Santa Catrina o governador teria descrito as duas lagoas (Conceição e do Peri) e teria dado o nome das ilhas de Ratones. Ainda tem um pesquisador da cidade de Joinville que deturpa a historiografia da expedição durante a travessia a pé desde a costa catarinense dizendo que os mesmos teriam entrados por um outro caminho mais ao norte que não fosse o vale do rio itapocu."













































































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